Um dia inteiro só falando a verdade.

Hoje, acordei já atrasada para ir trabalhar, não consegui ligar meu “jegue” nome que dei a minha moto, deu algum problema no click, mais conhecido como partida elétrica, então respirei fundo e segui por um longo caminho para chegar ao ponto de ônibus e conseguir pegar um transporte.
Ao passar pelo caminho fui interceptada por alguns visinhos, e ao dar o diário “bom dia”, por mais zangada que estivesse, respondia com um olá! Juntamente a um sorriso, cheguei à conclusão que nunca tinha enxergado antes, o quanto eu era hipócrita e mentirosa. A quem eu queria enganar, não sabia o porquê de querer esconder minha zanga, eu não tinha menor noção. Só achava que as pessoas não deveriam pagar pela minha falta de sorte naquele dia. Mas por que dizer que estou bem e feliz, já que estava “mentido”. Logo eu, que me considero uma pessoa tão verdadeira, tão transparente.
Na verdade eu estava irada, com respiração ofegante e pressão baixa, virada na “zorra”, como geralmente diz um colega de faculdade em momentos de ira verbal.
A quem eu estava realmente enganando? A outras pessoas ou ao meu eu, que envelhecia precocemente com tanta atribulação mental.
Cheguei à conclusão de ser mais verdadeira comigo mesma e testar daí por diante a verdade incondicional, ou seja, falar tudo que estava sentindo.
Declaro a você, minha querida companheira de leitura, que não foi nada fácil.
Logo pela manhã, respondi a meia dúzia de vizinhos que: – o dia está horrível, vou ter que pegar aquele ônibus cheio e andar mais meia hora para chegar ao trabalho. Ao esclarecer meu mau humor, traduzia com careta tudo que falava, gesticulava com o dedo indicador desesperadamente de tal forma que assustou a vizinhança. Continuando minha andada, ainda escutei “o que deu nela”? Não dei importância para os comentários e segui meu caminho. Chegando ao trabalho os colegas vieram me cumprimentar com sorrisos e bons-dias, então respondi indiferente a alegria deles com um “mau dia colega”, o colega me olhou de forma assustada como se tivesse visualizado um mostro de duas cabeças, uns dez chifres e uma pata, – estranho né? Todos me olharam de forma diferente aos dias anteriores. Senti-me um pouco aliviada, e pensei: Há! Finalmente consegui ser verdadeira e não mentirosa!
Minutos depois alguém me avisou que o chefe queria falar comigo. Fui rapidamente a sala da diretoria, chegando lá, o bom dia do chefe foi em alto e bom tom, inclusive tinha em seu rosto um enorme sorriso, então pensei –“ será que o chefe é tão hipócrita quando eu”, quase que regredi diante do prometido da manhã, mas não voltei atrás, continuei sendo super verdadeira, respondi da mesma forma que falei com os colegas. O chefe perguntou: – aconteceu alguma coisa? Por que está zangada? Então expliquei o ocorrido e me desculpei quanto ao atraso. O chefe me olhou no fundo de meus olhos e disse: – você vive em sociedade, não pode tratar as pessoas tão mal. Eu esclareci que não maltratara ninguém, mas estava sendo verdadeira. O dia não estava bom, então respondi “mau dia”. Fui severamente repreendida, o chefe declarou que se continuasse com tal comportamento seria afastada do serviço.
Fique surpresa com o ocorrido. Como é que pode! Querido leitor! Ser afastado por ser verdadeira? Voltei para meu setor, ainda perplexa com a situação e cheguei à conclusão que precisaria ser uma mentirosa para continuar trabalhando e vivendo.
Então meu querido leitor tenha um bom-dia!!!!!!

Jilpinheiro

http://jilpinheiro.wordpress.com/2007/08/20/cronica-um-dia-inteiro-so-falando-a-verdade/#respond